domingo, 25 de março de 2007

Texto (1)

A partitura musical não é uma múmia.
A essência da partitura consiste no texto criado pelo compositor no seu tempo e o executante, que pertence ao seu próprio tempo.
O segundo componente mudará sempre, e com ele, a essência da partitura musical.

Vitaly Margulis, Bagatelas, op.6

14 comentários:

  1. o que é curioso, a meu ver nao só numa perspectiva histórica que o texto sofre permutacoes ( ornamentacao livre , improvisar de cadencias...), mas a música dita "contemporanea" é talvez a que sofre mais transformacoes entre o texto - ideal sonoro do compositor - e o resultado físico- intérprete.....( dado á falta de capacidade deste(Stockhausen))
    o que me choca no entanto é que muitas vezes e que o próprio compositor nao sabe o que quer , isso é para mir ( e já trabalhei com alguns ) o maior mistério .....

    " nao, nao toque as notas, o ritmo é livre , pense numa freira....."

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  2. a propósito , eu sou o anónimus que se fartou de rir

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  3. Parece que descobriram a pólvora...

    Qual é o texto que é lido, em voz alta, da mesma maneira?

    Não percebo a importância deste assunto. Seja o compositor contemporâneo ou não.
    Quantos textos sem pontuação nem maiúsculas já foram escritos que nós lá vamos lendo tant bien que mal?

    Às vezes os músicos cansam-me. Entretêm-se com cada coisa...

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  4. Esqueci-me de dizer, Dona Sónia, que falava aí para o companheiro "dos óculos" pois entendo que a senhora não tinha intenção :-)

    A senhora, como muito bem se lê nas entrelinhas, falou ao post anterior, aquele que, por ser uma partitura, não leva a comentários senão ao ajustado seu.
    Poderá levar a comentários de especialistas da composição, o que não é o meu caso.

    Agora que o texto sofre "permutacoes", sofre! Valha-me deus ó "dos óculos"...

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  5. primeiro de tudo:

    como ja deve ter reparado, nao tenho no meu teclado nem cedilhas nem um til .....sorry!
    ( para além disso nunca fui bom em ortografia, facto!)
    o que eu queria dizer , e com o devido respeito tem alguma "polvora ":
    a)Há uma frase de Margulis, nao a sei agora de cor, na qual ele se refere a impossiblidade de separar interprete do compositor , o interprete quando toca recria (OK , num texto tambem), mas a Música é primariamente preceptivel de forma acústica(sorry!),se eu lhe der uma partitura para a mao o que vai ver é um monte de bolhinhas....
    O que é realmente difícil é produzir um som que se compare àquilo que o compositor tem na cabeca, ou como seria ouvir uma sinfonia de Beethoven na própria cabeca do compositor?
    b)quanto á história : Orfeo de Monteverdi: Gardiner versus Harnoncourt, eles "fazem exatamente o mesmo texto" sem tirar nem por, so que nao é a mesma Música,sao, na versao de Gardiner acrescentados elementos que nao existem no texto, no entanto, chegou se á conclusao que antigamente se fazia assim!( e está se sempre a aprender com o passado)

    espero nao a ter cansado desta vez.... ;-)

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  6. Olá ó "o dos óculos"!

    Não me cansa nada. O senhor não me cansa. O assunto é que é estéril, quando focado do ponto de vista do que é que o compositor ouviria na cabeça ao compôr. É tipo o que é que o poeta ou o escritor quereriam dizer com o texto que escreveram.

    A obra! A obra é que ficou. E ficou em notas com uma data de pontuações. Se eu olho para 1 partitura, só vejo uma data de bolinhas se não souber lê-la, acho eu. Mas mesmo descodificando-a, nunca terei a leitura verdadeira se não a tocar.

    Portanto, para mim, não há música sem intérprete. Se todos os compositores do mundo se tivessem ficado pela pauta, a música deles nunca tinha existido senão na sua cabeça. E não vejo de que serve a um intérprete interrogar-se o como soaria a sinfonia na cabeça do Beethoven.

    Agora ainda bem que há Gardiners e Harnoncourts e "o dos óculos" para darem vida a essas pautas. Se o fazem de maneira diferente, tanto melhor! Que estopada que seria ouvirmos interpretações iguais! Aliás, já ninguém os iria ouvir. Bastava tocarem as músicas uma vez, fazia-se uma gravação única e prontos. Ficava para a eternidade.
    O Gardiner nunca pode ter chegado à conclusão que antigamente se fazia assim. Imagina, quer ele dizer. Essa arqueologia musical é que é completamente estéril, penso eu.
    O que ele recria não é o passado! É a sua própria imaginação :-)
    E assim se diz que vamos aprendendo com o passado...

    Eu acredito que um intérprete precise de parâmetros mais ou menos concretos para dar uma estética credível ao que vai interpretar. Mas não é isso necessário no Teatro também? Ou na leitura de poesia? Como levar à cena uma tragédia clássica nos dias de hoje?
    Oa parâmetros do músico/intérprete, para além da pauta, não podem ser, de todo NÂO, querer fazer bruxaria interrogando-se sobre as intenções do autor. As intenções do autor, as que ele pôde transmitir, estão na pauta!
    O resto somos nós que vamos construir.

    E por que razão o compositor que o senhor teve de interpretar e lhe sugeriu que pensasse "numa freira" :-)))))))) não escreveu isso na partitura? Devia ter aprendido com o Satie a escrever todas as indicações que lhe viessem à cabecinha. Caso contrário, nieps.
    Acrescentar à pauta, depois da escrita final, só o intérprete.

    Eu sei, eu sei... isso é uma cruz.
    Tocar é uma cruz. Os músicos sofrem muito. É isso que me cansa, sabe?
    Admiro os intérpretes
    que tocam sem sofrer ;-)

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  7. Ah! Já me esquecia...

    esqueça essa de querer produzir um som que se compare àquilo que o compositor tinha na cabeça... isso é de loucos!

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  8. Aqui está um tema que, com toda a certeza, agradaria a Manuel Monteiro e à sua nova mão direita ou não estivéssemos a tratar de ÒCULOS.
    Tergiversando (goste-se ou não) Eu também os uso e, a este propósito, lembro uma famosíssima frase de Chaka Zulu que, depois de ter colocado um par de óculos de um inglês, refere tratar-se de um homem que não gosta de ver o mundo tal como ele é.
    Na óptica Chakaziana os óculos graduados distorciam a sua óptima visão, mas na de muitos de nós, os ditos, aclaram-nos a perscrutabilidade e as orelhas não se tratam de meros sustentáculos dos ditos óculos, mas sim óptimos coadjuvantes.
    Na música nem só se vê, se ouve, se cria, recria, copia e inventa.
    E se TOCA.
    Aliás, nestes tempos que se avizinham poderemos ter o melhor dos dois mundos (dos vossos dois mundos): o dos músicos e o dos não músicos, que é como quem diz: uns óculos porreiros com um creme nivea e a praia (música) está a andar.

    No fundo, tratam-se de duas opiniões (convicções) válidas com francas hipóteses de comunhão, tal qual sinalagma obrigacionista transfigurado.

    Assisto confortavelmente no meu sofá, e de óculos assentes no meu naríz (pois a música também vive dos cheiros - não só dos lamentáveis e necessários transpiratórios inspiráveis)a este interessante diálogo.

    Prossigam, por favor.

    PCM

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  9. Porque é que é tao grave tao absurdo, interrogarmo-nos com a questao do criador,perdao , mas parece-me mais estéril ( gostei!)aceitar a obra no papel tal e qual como ela está escrita sem perguntas sobre o estilo a época e até o imaginário sonoro do compositor,( é evidente que eu nao quero saber exactamente ,quem é a eterna amada de Beethoven, qual delas , ou se ás tantas até é um ele!...., no entanto intressa-me saber que tipo de instrumentos eram usados se com essa informacao me posso aproximar desse ideal de som utópico....
    Quando eu me referia ao "querer ouvir na cabeca de compositor", era mais numa perspectiva de admiracao, ( eu gostava de ser ratinho,).

    No caso Gardiner , paradigmático para todo um movimento de interpretacao "arqueológica " se assim quiser,é evidente que nunca ninguem teve a arrogancia de se proclamar "d´época", nem mesmo Gardiner, há no entanto todo um desenvolver , uma busca no sentido de um ideal estético passado, e quando se constroi por exemplo um arco de um violino segundo planos do sec.17 , uma gravacao muito interressante aliás, de um violinista alemao ,um arco dizia eu que tem a possiblidade de atravez da pressao deum botao ,relaxar as cerdas de tal maneira que é üpossivel a fricsao de todas as cordas ao mesmo tempo ( um arco curvo) e se o dado violinista grava as Suites e as partitas de Bach, e nos proporciona uma nova visao da obra , pela primeira vez a Chaconne sem os arpejandos , mas com todas as notas ao mesmo tempo....nao me parece queseja uma situacao estéril de todo, ( agora ficava be um ex. midi, mas nao sei como se faz)

    De modo nenhum queria desvalorizar a literatura , ou o teatro porque se preocupam no fundo com questoes semelhantes , tambem quero apresentar as minhas desculpas se parceu queixume,no entanto em tudo o que é bom ( ou pelo menos naquilo que conheco) se sofre um bocadinho (qual é a mae que dá á luz sem um único suspiro, o deslumbre da sua obra no entanto depressa faz esquecer as dores...)

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  10. Tanta questão e todos têm razão...
    O "problema" aqui parece-me que é o da própria insuficiência das linguagens!!! E se a linguagem escrita, que comunica, mais ou menos objectivamente, mas comunica, é sujeita a "permutações" por via do leitor, que dizer de uma linguagem que não comunica nada...
    (Essa história de que a música é uma linguagem universal é conversa!)
    Mas se calhar é nessa insuficiência que reside todo o interesse!!
    Aposto que a D. Nívea Samovar já vibrou mais com a análise e a desconstrução de um poema do que com a sua simples contemplação!!

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  11. Mas então não era isso que tu querias, Sónia? Que a gente comentasse? Eu e "o dos óculos" conversamos sobre o assunto. Não andamos às questões :-)

    Agora, "o dos óculos", creio que já se explicou melhor e, pelo menos já entendi que se referia mais concretamente às abordagens da música antiga com instrumentos de época e que aquela história do "estar na cabeça do compositor" era subsidiária :-)
    Quanto às questões de estilo e época nunca pensei que não fossem imprescindíveis. Claro que estou de acordo.
    Também não achei que desvalorizasse a literatura. Só dei o exemplo por me parecer que todas se aplicam a várias formas de expressão e seriam quase, para mim, dados tão adquiridos que já nem valia a pena falar deles.

    Outra questão que agora põe e que já é nova em relação ao post que suscitou a nossa conversa, é essa busca do possível ideal estético do passado. É uma opção. Pessoalmente não me encanta, talvez por não fazer música. Intriga-me esse desejo de reconstruir às arrecuas, quando vivemos noutro tempo com tudo o que isso acarreta de mental e evolução dos instrumentos.

    Mas compreendo que seja uma paixão para certos intérpretes. Tenho uma amiga violoncelista que vi crescer tocando desalmadamente repertório romântico. Para mim ela era uma força da natureza e aquele repertório caí-lhe que nem uma luva.
    Anos mais tarde, depois de estudar no estrangeiro, mudou as cordas ao violoncelo, fala-me em tripa de porco, em mudanças de arco e, pasmo para mim, em dedicar-se de corpo e alma a essa pesquisa. O violoncelo já não se chama assim e passou-se pró tempo do Marin Marais (já não me lembro como se escreve exactamente).
    Fiquei estupefacta. É que ela mudou de personalidade! Está contida, os gestos mais curtos, a fala diferente.
    Eu lá vim com uma a lista dos violoncelistas que devia ouvir, que tinham O som, que tocavam com tripa de porco, mas nunca me decidi a ouvir nenhum. Não sei porquê aquilo desmotivou-me.

    E pronto. Aqui fica um simples testemunho desta migalha de público para os meus queridos músicos.


    Quanto ao PCM, um anarquista! Um sinalagma obrigacionista transfigurado que goza sentadinho no sofá com estas nossas conversas sérias! Devia era pôr tripas de porco no piano e começar a preparar um concerto para a Casa da Música! Arre!

    :PPPPP

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  12. Quanto à vibração, Sónia, apostas mal. Não há análise e desconstrução que valha a leitura pura e simples de um poema, para mim. Deviam, aliás, ser fuzilados, todos aqueles que torturam anos a fio os jovens estudantes, analisando e dissecando poemas como o que te decidiste a postar agora.

    :-)

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  13. Também não me identifico nada com essa busca da estética do passado! É tão válida como outra qualquer, até porque é impossível de obter, ou não fôssemos nós produto também do nosso ambiente.

    Quanto à vibração, foi mal apostado, realmente: devia ter calculado que a tua preferência era por uma abordagem mais emocional. Já eu, gosto tanto mais de um poema, ou de uma música, quanto mais os viro do avesso!

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