quinta-feira, 25 de abril de 2013

Hoje, 25 de abril de 1974 de luto...


Hoje, 25 de abril de 1974 de luto...
Sem música nem imagens, profundamente enlutado.
Na época os militares fizeram a revolução acontecer, hoje nem eles, nem, aparentemente, ninguém tem força para tal. Hoje, que temos tanto a mais, falta-nos tudo, massa crítica, opinião, cabeça para pensar. Acima de tudo, temos medo, toda a gente tem medo. Chama-se a este fenómeno, o de criar e sentir medo nos outros, terror, ou em palavras socialmente menos adequadas, assim se diz por ai de forma hipócrita, terrorismo.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

segunda-feira, 8 de abril de 2013

"brevemente disponível"

Ontem à noite, acabei por ver no site da Ava Musical Editions como "brevemente disponível" esta minha obra. A primeira coisa que pensei foi que tendo a obra acabada de ser estreada era quase estranho vê-la agora editada...
não que eu ache que a obra não o justifica ou que a AvA não presta o serviço público que o estado não faz...
Uma nova obra, ou antiga, tanto faz, de um compositor tem, na melhor das hipóteses, uma estreia e depois arruma-se definitivamente na "prateleira" pessoal do compositor. Esta ideia é aliás, analisada com uma lucidez acutilante no livro "Música e Poder - Para uma Sociologia da Ausência da Música Portuguesa no Contexto Europeu" do meu amigo António Pinho Vargas. Portanto, o que quero transmitir com este pequeno texto é que uma obra musical não existe, apenas e só, porque teve uma estreia. Dessa forma a obra musical nem sequer existe para além do mundo interior do seu criador. Imaginem o que seria se as obras musicais da tradição musical ocidental, vulgo música clássica europeia, tivessem tido apenas uma estreia no seu tempo! Se assim tivesse sido hoje ninguém conheceria, por exemplo, as "Cenas Infantis" de Schumann, qualquer quarteto de cordas de Haydn, ou "Boris Godunov". As obras musicais dos compositores deviam ser tocadas uma ou outra vez para além da, hipotética, estreia. Por isso mesmo também acabam por estar à venda. E um original é um original e não uma fotocópia...


(para além da música também a capa é minha, concepção gráfica, tipo de letra, e, claro, foto, tirada no final dos anos oitenta com uma antiga reflex no Porto, bairro da Fontinha. As traves e a sua aridez urbana representam simbolicamente uma ponte com o travejamento de um piano de cauda aberto).
 —  com Francisco José Costa e Alfredo Figueiredo Costa em Fontinha, Porto.

RESISTIR É VENCER


Canto Dos Torna-Viagem

 Melodia 1

Foi no sulco da viagem
Já sem armas nem bagagem
Nem os brazões da equipagem
Foi ao voltar

Pátria moratória
No coração da história
Que consumiste a glória
Num jantar

Foi como se Portugal
P’ra bem e p’ra seu mal
Andasse em busca dum final
P’ra começar

Ávida violência
Reverso da inocência
Sal da inconsciência
Que há no mar

Império tão pequenino
De portulano caprino
Bolsos de sina e de sino
Em cada mão

Pátria imaginária
De consistência vária
Afirmação diária
Do teu não

As malas do portugueses
São como os olhos das rezes
Que se mastigam três vezes
Em cada chão

Cândida ignorância
Grande desimportância
Os frutos da errância
Já lá estão

Melodia 2

Ai Senhora dos Navegantes me valei
De África, do sal e do mar só eu sobrei
Foi p’ra me encontrar que amanhã já me perdi
Longe vai o tempo que eu já não estou aqui

Ai Senhora dos Talvez-Muitos-Mais- Sinais
Socorrei estes desperdícios coloniais
Foi na noite fria que o dia me cegou
Inda agora fui, inda agora cá não estou

Ai Senhora dos Esquecidos me lembrai
O caminho que p’ra lá vem e p’ra cá vai
Etecetera e tal, Portugal é nós no mar
Inda agora vim e estou longe de chegar

Ai Senhora dos Meus Iguais que eu subtraí
Foi pataca mim e não foi pataca a ti
Se é tão grande a alma na palma do meu ser
Algum dia eu vou finalmente acontecer

Melodia 3

Porque não tentar outro ponto de vista
A história dos outros quem a contará
Se qualquer colónia sem colonialista
São os que já estavam lá

Tentemos então ver a coisa ao contrário
Do ponto de vista de quem não chegou
Pois se eu fosse um preto chamado Zé Mário
Eu não era quem eu sou

Os navegadores chegaram cá a casa
E foi tudo novo p’ra eles e p’ra mim
A cruz e a espada e os olhos em brasa
Porque me trataste assim?

Não é culpa nossa se quem p’ra cá veio
Não se incomodou ao saber do horror
A história não olha a quem fica no meio
E o que foi é de quem for

letra e música de José Mário Branco