domingo, 11 de dezembro de 2005

Ensino “muito pouco” Especializado da Música (6)

No âmbito da discussão acerca do ensino especializado da música aqui fica o meu comentário ao post “Mestres de Discípulos” do bajja de César Viana.

Caro César Viana:
cada vez mais penso que os assuntos abordados neste post, apesar da sua grande relevância, interessam a pouco mais do que meia dúzia de pessoas, se tanto! E essas pessoas, ou estão dispersas com as suas forças, ou não ocupam lugares de decisão e portanto nada fazem, ou, por último, já estão cansadas de tantos anos de luta e afundadas num sistema atrofiante que as consumiu. Eu incluo-me em qualquer dos casos, mas em particular no último... Mesmo no meu blogue, onde apresentei com grande empatia os meus pequenos aforismos, a série de posts - Ensino “muito pouco” Especializado da Música – foi sempre excepção porque representou para mim um grande tormento escrevê-los. Escusado será dizer que outros textos (e muita reunião e “reflexão”), em tempos idos, foram escritos em ambientes mais institucionais e que disso nada resultou a não ser a bandalheira a que assistimos hoje! Dou muitas vezes por mim a pensar se só eu é que estou a ver estas coisas!? Onde é que estão as centenas de professores de ensino especializado da música em situação precária de emprego? Onde é que está a qualidade de ensino “especializado” a que os alunos têm direito? Porque aligeirar tudo, desde a música, que deve ser a sério nas “escolas especializadas”, até aos patamares normais de exigência que devem ser regra entre relação professores/alunos? Os modelos actuais, implementados por uma série de equipas dos ministérios de educação dos sucessivos (2) governos, falharam!!! O ensino superior têm grande responsabilidade no estado em que as coisas estão porque não esclarece nem protege os seus ex-alunos e, por outro lado, lhes vai fazendo crer que serão “professores especializados”, até porque o tal número “X” de alunos por curso tem que ser alcançado, senão... e por fim, as direcções e professores de muitas “escolas superiores ou não, especializadas ou nem por isso” contribuem na sua forma de actuação irresponsável e incompetente, de forma letal e decisiva para aquilo a que se pode chamar de morte anunciada do verdadeiro Ensino Especializado da Música.

(obrigado aos que têm vivido neste espaço bloguista esta minha tormenta. A saber, César Viana, Carlos a.a., sasfa, Nívea Samovar, io, t., entre outros.)
3 Comments:
At Domingo, 11 Dezembro, 2005, César Viana said...
As suas recorrentes reflexões sobre o assunto têm contribuído para ao menos ter tido lugar alguma troca de opiniões. Quanto ao resto, meu caro Paulo Bastos, existe uma total ausência de massa crítica, neste como em muitos outros meios, por isso a única coisa que pode motivar a classe no seu todo são as carreiras, os ordenados, as habilitações, etc. Esta situação só valoriza o seu esforço, meu caro. Bem haja pela lucidez e persistência.

At Sexta-feira, 30 Dezembro, 2005, Anonymous said...
Claro que não é o unico, só que como bem disse o cansaço já é algum e quanto mais se estuda este assunto e se investiga a legislação mais o ânimo se vai perdendo. Pergunto se a maioria dos nossos colegas conhecem a famosa portaria que regula a habilitação para o dito ensino vocacional - 693/98? Confesso que só este ano fiquei a saber que o curso da univ ersidade de aveiro não é incluido. Segundo algumas informações que tive de pessoas que ocupam cargos directivos em instituições publicas, este curso cujo o nome é “licenciatura em ensino de música”, habilita os seus licenciados a leccionar qualquer disciplina nas escolas de ensino especializado, e pelos vistos esses são os preferidos!. Claro que a lei é susceptivel de varias interpretações...logo, estamos todos dependentes da boa disposição do momento dos reponsáveis pelo ensino artístico que se sentam cómodamente nos cadeiróes das direcções regionais de educação.
Isto não passa de um pequeno problema comparado com aqueles que temos que enfrentar diáriamente com as direcções das escolas. Quem trabalha no ensino particular estes problemas agravam-se: contratos de trabalho ilegais, pressões durante a avalição, condições de trabalho precárias, falta de pagamento, pressões para assinar juris de exame dos quais não fiz parte para encobrir professores sem habilitação, enfim já passei por isso tudo. Inclusivamente já sofri intimidações por parte da entidade patronal por ser sindicalizada. Já sei que devem ter conhecimento disto e muito mais, de qualquer maneira é sempre bom desabafar.
Toda esta situação cansa, e muito e é tremendamente dificil mexer nestas questões quando a maior parte dos colegas que trabalham nas mesmas escolas só se preocupam com quantas horas, quantos alunos vão ter durante o ano. Coonfesso que é angústiante não se saber qual vai ser o nosso ordenado no ano asseguir ou até mesmo no mês asseguir. è um ciclo vicioso, um tipo de comercio até. Quantas mais horas - mais alunos -mais dinheiro - menos exigência para manter os alunos-menos empenho - menos música e assim andamos todos “satisfeitos”. O que é necessário é motivar as crianças, como? É simples, não dando muito trabalho, boas notas, simpatia, não chatear muito com essa coisa de ter de estudar, música não se estuda. E o rendimento, e a qualidade de trabalho? Isso não renova as matriculas.
Saudações
AT

At Quarta-feira, 04 Janeiro, 2006, sasfa said...
Caro(a) AT:
O seu comentário foca um tema crucial para o ensino especializado, que, confesso, nunca tive coragem de nomear - as licenciaturas em ensino de música ( não só de música, a epidemia alastra-se a outras áreas) da universidade de Aveiro e, mais recentemente, da Católica.
Tenho a certeza que estas instituições são responsáveis, em grande parte, pela degradação do ensino da música em Portugal, e isto por vários motivos:
• os currículos destas licenciaturas não privilegiam o estudo do instrumento, ou composição, em profundidade, antes afloram uma diversidade de disciplinas, maioritariamente teóricas;
• a carga horária destes cursos não permite o trabalho individual que um estudante de música precisa de ter;
• a exigência, fraca, à entrada, durante e à saída dos cursos;
Isto não quer dizer que estes cursos estejam mal estruturados, pelo contrário, estão até bastante bem se pensarmos que foram criados para preparar professores para o ENSINO GERAL!!! Exactamente, opção de música no 3o ciclo do ensino básico. Nas escolinhas secundárias e EB23 e afins, não nos conservatórios e academias. Por isso não aparecem na famosa portaria! Como não havia saída de emprego para tantos recém licenciados, a UA conseguiu o inacreditável: colocar os seus alunos no ensino especializado e profissionalizá-los, dando-lhes ao mesmo tempo todas as vantagens do ensino geral, nomeadamente a progressão na carreira, coisa com que, como deve saber, os licenciados nas escolas superiores, Lisboa ou Porto, Metropolitanas, etc, apenas podem sonhar... Mas estes é que são os especialistas, não é?! Pois são, mas no sítio errado, porque em Portugal é muito mais importante ser doutor do que ser técnico... por isso, as direcções regionais se deixam seduzir pelos DRs, e as entidades patronais, maioritariamente chefiadas por pessoas que entendem mais de física nuclear do que de música, os preferem... É evidente que o problema do ensino especializado da música é muito mais complexo e não se resume a isto, mas esta é uma fatia (grande, aliás) do bolo.

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