quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

O desembaraçado, o opinioso e o consequente analfabetismo musical português


(...) Segundo Manuel Pedro Ferreira, “para mal dos nossos pecados a necessidade de habitar um terreno musical próprio tem sido reconhecida por muito poucos”. No momento de encontrar responsáveis o autor recorre a figuras de retórica: “Os principais responsáveis por essa falta de reconhecimento têm sido, segundo julgo, a tacanhez e o snobismo, qualidades que vejo representadas, na minha galeria de tipos sociais, pelas figuras do desembaraçado e do opinioso. [...] Para o desembaraçado, a música pode bem viver numa tenda, desmontável à mínima tempestade orçamental. Para o opinioso, a boa arquitectura sonora nasce das recensões fonográficas e dos escritórios dos agentes e prescinde de alicerces. Ambos acham que os verdadeiros compositores são super-homens cujo génio se manifesta independentemente das condições de aprendizagem e exercício do seu ofício, ignorando que o desabrochar criativo exige estímulos sociais e um diálogo permanente, através dos executantes com o resultado sonoro” (Ferreira, 2007: 16).
Ferreira considera que “a comparação com a vida musical de outros países europeus, conjugada com uma maior preparação técnica e teórica dos organizadores musicais, possa vir num futuro próximo a sapar a tradicional influência do snobismo e da tacanhez nacionais. Tal expectativa não impede que essa influência tenha marcado de forma extremamente negativa o século findo” (ibid.). Chegando a conclusões relativamente próximas, Paulo Ferreira de Castro tinha afirmado na sessão comemorativa do Dia Mundial da Música em 1991: “Confrontemo-nos de uma vez por todas com esta realidade brutal e incompreensível num país que é parte integrante da Comunidade Europeia: a esmagadora maioria da população portuguesa é absolutamente analfabeta em matéria de música, porque o sistema escolar português é praticamente omisso em matéria de formação geral nesta área”. Mais adiante: “O público português, sobretudo o lisboeta – ou pelo menos uma parte significativa dele – é seguramente o mais snob e ao mesmo tempo o mais ignorante da Europa”. E prossegue: “Portugal tem, apesar de tudo, uma cultura musical antiga – quase completamente desconhecida, aliás, do cidadão comum – [...] mas – e o facto constitui motivo de verdadeira vergonha nacional – talvez nenhum outro país da Europa preste tão pouca atenção à conservação e valorização do seu património musical. Com excepção de algumas iniciativas da Fundação Calouste Gulbenkian, e outras pontuais, da Divisão de Música da Direcção Geral da Acção Cultural (nomeadamente da publicação aliás muito irregular de discos consagrados à música portuguesa) e do Departamento de Musicologia do Instituto Português do Património Cultural, muito pouco se tem feito no sentido de divulgar a herança musical no nosso país, e mesmo o investigador especializado esbarra em múltiplas dificuldades na tentativa de aprofundar o conhecimento desse sector fundamental da cultura portuguesa” (Castro, 1991).
Quanto mais se avança nesta direcção mais facilmente se chega a zonas profundas da sociedade portuguesa. Nos textos que acabamos de ver, no momento em que se trata de apontar os responsáveis recorre-se normalmente ao défice estrutural ou a figuras de retórica, evitando, deste modo, a identificação explícita de responsáveis directos e uma análise de práticas institucionais concretas. Paulo Ferreira de Castro aponta responsabilidades genéricas ao analfabetismo musical do público, ao snobismo lisboeta e à insuficiente acção dos organismos oficiais, e a interpretação de Manuel Pedro Ferreira não identifica com total clareza os responsáveis da falta de reconhecimento: “a situação do compositor em Portugal está, de resto, ligada ao tratamento de que a Música em geral tem sido objecto, até há pouco, por parte das instituições do Estado” (Ferreira, 2007: 14). Onde está a raiz deste conjunto de problemas?

Nós – a tacanhez – e os outros, in MÚSICA E PODER – Para uma sociologia da ausência da música portuguesa no contexto europeu de António Pinho Vargas


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

cultura musical de algibeira...


Sobre esta História da Música e, para além da primeira impressão interessante, principalmente na velocidade e qualidade do artista gráfico, de estar de uma forma geral correcta a cronologia em termos científicos, este video sofre de um lamentável equívoco...
O que dá para perceber é que, e para a maior parte das pessoas que vir isto com atenção, das chamadas músicas de vanguarda, das novas formas musicais, do impressionismo, do dodecafonismo, de Debusy e de Schoenberg do início do século passado saltamos de imediato para uns divertidos ragtimes, para o Jazz, para o Blues, Rock,  Hardrock, invasão britânica, Heavy metal, rock progressivo, pop, etc., através de nomes como Armstrong, Elvis, Beatles, Led Zeppelin, Pink Floyd, Queen, New Order, etc.!!! Ou seja, passa-se de uma música de particular grau de abstracionismo enquanto objecto estético para uma sub-cultura popular, ou outra ainda mais sub. Quando é que será possível que se entenda de uma vez por todas que há galhos para cada macaco, que não é tudo a mesma coisa, e vá, deixem-se de acusações de visões elitistas pois estas nunca me serviram nem nunca me servirá a carapuça. É por estas e por outras que as coisas são como são, a cultura, musical ou outra qualquer, é, para a grande parte das pessoas, e grosso modo, de algibeira. O gosto educa-se, aprende-se, e cultiva-se! Já para pensarmos e agirmos todos de igual forma perante as coisas nada é preciso fazer, basta estarmos quietos e de cara alegre. Esta a pior ditadura dos nossos tempos!

domingo, 10 de fevereiro de 2013

o fino gosto estético

Perante a grande intelectualidade e fino gosto estético por que estou cercado, devo redimir-me, quiçá penitenciar-me, e com os meus pobres e desafinados ouvidinhos, nada mais fazer do que colocar por aqui alguma música pimba francesa!