sábado, 30 de junho de 2012

Definição de prostituição: à procura de quem melhor lhes paga para que melhor se vendam


Para quem não conhece o livro...
Penso exatamente assim em quase tudo, como Saramago responde a Miguel Mendes, só retirava as razões de ordem política, eventualmente.

"O meu caminho foi sempre mais ou menos em linha reta, ou pelo menos sem perder o sentido da linha reta a que me havia obrigado por razões de ordem ética, de ordem política, de ordem ideológica. E isso, enfim, não é fácil perceber - numa sociedade de oportunistas, de arranjistas, de pessoas que andam à procura de quem melhor lhes paga para que melhor se vendam -, isto não se perdoa.

"Miguel Gonçalves Mendes, "José e Pilar" Conversas inéditas

politicamente incorrectos os afectos, os afectos

Ah, quanta mágoa
Ah, quantos sonhos incompletos
Mas oh, quanta palavra tomou vida
na nascente dos afectos
desorganizados alfabetos

Não sabe ler neles quem pensa
nem lhe conhece bem as cores
que por secundários os dispensa
aos afectos medidores
do corpo e da alma e seus sabores

Porque o quadrado da hipotenusa
é igual a já não sei quê dos catetos
a traça do passado é tão confusa
mas tão límpida a lembrança dos afectos
são fartos e temíveis
são as cordas sensíveis
quietos, irrequietos
p'ra sempre
politicamente incorrectos
os afectos, os afectos

Era de uma espécie quase extinta
foi encontrada adormecida
a cara talvez em paz, talvez faminta
esperando a investida
de um só beijo que a devolva à vida

Já que se pede ao amor loucura
não se lhe dê veneno à flecha
nem triste pecado à mordedura
abre o pano até que fecha
o amor busca nos afectos a deixa

Porque o quadrado da hipotenusa
é igual a já não sei quê dos catetos
a traça do passado é tão confusa
mas tão límpida a lembrança dos afectos
são fartos e temíveis
são as cordas sensíveis
quietos, irrequietos
p'ra sempre
politicamente incorrectos
os afectos, os afectos

Música: Jorge Constante Pereira
Letra: Sérgio Godinho
In: "Domingo no Mundo", 1997

Piano Harp and Percussion

O primeiro cd de Paulo Mesquita na iTunes Store. Isto já devia ter acontecido há muitos anos!
Para ouvir um preview  e comprar carregar aqui.

ao menos, ali estão na escola...

Maria José Viseu, presidente da recente Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação, a propósito do prolongamento das aulas do 1º CEB até Julho, para colmatar as tais dificuldades que não foram resolvidas em 4 anos, Maria José Viseu diz que:

"(...) “pode ajudar a recuperar competências educativas”. E facilitar a vida aos pais no complicado período das férias. “É uma medida que pode ajudar os pais a poupar algum dinheirojá que muitos não têm onde deixar os filhos durante as férias e, ao menos, ali estão na escola”, sustenta Maria José Viseu. (...)"
Fonte: DN @ Alunos com dificuldades ficam mais um mês nas aulas

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Concerto Final da Classe de Composição


Foi assim ontem, correu bem mas demasiado extenso, consequência natural tendo em conta o empenho dos alunos envolvidos e da qualidade das suas composições...
Todos mereciam ser ouvidos!
Parabéns aos compositores e um agradecimento especial ao Francisco pela força e capacidade de liderança inegável com os seus colegas. Obrigado a todos.



CONCERTO FINAL DA CLASSE DE COMPOSIÇÃO

Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga

Auditório Adelina Caravana               18:30, 28 de Junho 2012

Ladies and Gentlemen (eletrónica) - Diogo Silva (11º ano: Laboratório de Composição)

Passing dream ------------------------ Pedro Lima (12º ano: Composição)
piano, Júlia Durand
clarinete, Bárbara Dias Luis

Contraponto a Dois (flauta e violino) -- Patrícia Oliveira (10º ano: Composição)
flauta, Carlos Miguel Araújo
violino, David Correia

hereafter (eletrónica) -- António Novais (11º ano: Laboratório de Composição)

Pensées d'eau (chanson) -------------- Júlia Durand (12º ano: Composição)
poema, Júlia Durand
barítono Ernesto Clemente
piano Júlia, Durand

Contrastes (viola e guitarra) --------- Patrícia Oliveira (10º ano: Composição)
viola, Sofia Sousa
guitarra, Frederico Meireles

Strange Dream (eletrónica) - Ana Catarina Barros (11º ano: Laboratório de Composição)

Ocaso (quinteto) --------------- Ana Catarina Barros (11º ano: Composição)
direção, Francisco Fontes
flauta, Carlos Miguel Araújo
corne Inglês, Maria Fontes
trompa, Pedro Silva
violoncelo, Ana Carolina Ferreira
piano, Bárbara Dias Luís

Three whispers for a tree (quinteto) ---- Júlia Durand (12º ano: Composição)
direção, Francisco Fontes
clarinete, Pedro Lima
marimba, Cláudio Miranda
viola, Ana Teresa Alves
violoncelo, Carolina Freitas
piano, Júlia Durand

Electronik Peace (eletrónica) ----------- Jorge Ramos (11º ano: Laboratório de Composição)

Momentos Suspensos (quinteto) --- Francisco Fontes (12º ano: Composição)
direção, Francisco Fontes
flauta, Carlos Miguel Araújo
oboé, Maria Fontes
clarinete, Célia Teixeira
fagote, Inês Coelho
trompa, Pedro Silva

Reflection (orquestra de cordas) --- João Tiago Araújo (12º ano: Composição)
direção, Ernesto Clemente
violino I, Joaquim Aníbal, José Nascimento
violinos II, Bernardo Barreira, Alexandre Rêgo
violas, Ana Teresa Alves, José Miguel Freitas, Sofia Sousa
violoncelos, Carolina Freitas, Carolina Rodrigues
contrabaixo, Francisca Machado

Obra experimental nº1 (música de câmara) -------- David Ramalho (12º ano: Composição)
fagote, Inês Coelho
percussão, Beatriz; Claudio Miranda
piano, João Alves, Isabel Romero
violinos, Alexandre Rêgo, Joaquim Pereira
violoncelos, Miguel Braz, Carolina Freitas

Sexteto nº 1 -------------------- Francisco Fontes (12º ano: Composição)
direção, Francisco Fontes
flauta, Carlos Miguel Araújo
clarinete, Célia Teixeira
trompa, Edna Gonçalves
violino, David Correia
violoncelo, Carolina Freitas
contrabaixo, Raquel Quintas

unfinished Bridges (sexteto) ----------- Pedro Lima (12º ano: Composição)
direção, Francisco Fontes
flauta, Carlos Miguel Araújo
clarinete, Célia Teixeira
clarinete baixo, Carolina Reprezas
trompa, Edna Gonçalves
violino, David Correia
violoncelo, Carolina Freitas

Manto (electrónica em tempo real) --------- David Ramalho, Francisco Fontes, João Tiago Araújo, Júlia Durand, Pedro Lima (12º ano: Laboratório de Composição)

Classe dos Professores:
Ana Moura: 10º ano: Composição
André Ruiz: 11º ano: composição; 12º ano de Laboratório de Composição
Paulo Bastos: 12º ano de composição; 11º ano de Laboratório de Composição

segunda-feira, 25 de junho de 2012

With Or Without You


Scala & Kolacny Brothers, U2

Google Places (6)

2011, Braga

Google Places (5)

2000-2011, Porto, Travessa da Ferreira

Google Places (4)

1976-2000, Porto, Praça Marquês de Pombal

Google Places (3)

1972-1976, Porto, Rua João Oliveira Ramos

Google Places (2)

1967-1972, Vila Pouca de Aguiar, Castanheiro Redondo

Google Places (1)


1967, Vila Pouca de Aguiar, Praça 25 de Abril (só depois de 74, pois claro!)

Google Places (0)



What's in a face

domingo, 24 de junho de 2012

Untitled from GQEye

By unknown on gqeye

I Choose Noise

Pokemon

Untitled from New Feelings

By unknown on NEW FEELINGS

Untitled from 10uhclock

By unknown on 10uhclock

Yamikin Ushijima-kun


Mate


Tactile


Design Fiction 002


sábado, 23 de junho de 2012

Portuguese Brass, Marina Pacheco e Coro dos Pequenos Cantores de Esposende



Foi ontem! No Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga, tudo memorável, fantástico, a qualidade global dos Portuguese Brass, a inegável e fantástica composição (Salmo 28) e orquestração de Osvaldo Fernandes, a jovem soprano Marina Pacheco, já com muitas provas dadas na sua carreira e, finalmente, o excelente coro dos Pequenos Cantores de Esposende, que deixou o público todo de boca aberta pela afinação (forma como se entra numa nota, como se mantém essa nota e como se sai dessa nota!), seriedade e qualidade excepcional do repertório escolhido, nomeadamente pelo escolha de John Rutter, e por fim, pela Direção de Helena Lima.



Os Portuguese Brass têm o prazer de partilhar o programa do Concerto desta noite em Braga, às 21h30, que contará com a participação especial da soprano Marina Pacheco e do Coro de Pequenos Cantores de Esposende (Direção: Helena Lima).

1ª PARTE:

- "Spirit of Brass" - Enrique CRESPO
- "Abertura Festiva" - Dmitri SHOSTAKOVICH (Arr. Peter LAWRENCE)
- "Adagio do Oratório de Páscoa" - J.S.BACH (Arr. Carlos Martinho)
- "Ave Maria" - Camille SAINT-SAËNS
- "For the Beauty" - John RUTTER
- "All Things Bright - John RUTTER
- "Ave Maris Stella" - Antonin DVORAK (Arr. Osvaldo Fernandes)
- "Pie Jesu" - Gabriel FAURÉ (Arr. António Silva)
- "Salmo 28" - Osvaldo FERNANDES

2ªPARTE:

- "El Pasodoble y Olé!" - Enrique CRESPO
- "Oblivion" - Astor PIAZZOLA (Arr. Osvaldo Fernandes)
- "Milonga de la Anunciacion" - Astor PIAZZOLA (Arr. Nelson Silva)
- "Romanza y Variaciones" - Enrique CRESPO
- "Chorinho do Brasil" - Osvaldo FERNANDES

terça-feira, 19 de junho de 2012

comentários no facebook com APV a propósito de" Six Portraits of Pain"


Post de António Pinho Vargas que deu origem aos comentários:
o desejo secreto do compositor é poder chegar ao ponto de imaginar que com a sua obra, ou algumas delas, terá mudado a vida de, pelo menos, algumas pessoas. Neste caso posso afirmar que a peça Six Portraits of Pain mudou a minha. A partir d...esse momento milagroso e inexplicável não foram poucas as vezes em que recorri à lembrança da sua estreia para tentar afastar as angústias e as dúvidas da criação: "lembra-te que foste capaz de compor aquela peça". Comparado com isto, com a possibilidade de ter sentido algumas vezes esta exaltação solitária, o facto de o disco ser quase impossível de encontrar, de a música portuguesa em geral ser menosprezada ou desconhecida, mesmo em Portugal, acaba por ter uma menor importância, nem que seja por breves momentos.
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Comentários:
Paulo Bastos Fantástica obra... o que eu gostava de assim escrever! A melodia é sempre o ponto mais evidente numa depuração controlada e sofrida. Adorei, parabéns!
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26/3 às 18:54 · GostoNão gosto · 2
Gonçalo Gato Eu tenho o disco! Estou consigo na sua luta. 1 abç
26/3 às 18:57 · GostoNão gosto · 1
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António Pinho Vargas Caro Paulo Bastos, muito obrigado. E mantemos um contacto por interpostas pessoas - alunos seus que vêm de Braga estudar comigo e com outros colegas em Lisboa, sempre muito bons, há vários anos. Não é por acaso. Parabéns e obrigado. Tem razao. É a melodia que conduz tudo.
26/3 às 18:58 · Não gostoGosto · 1
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Paulo Bastos Um sustentação melódica quase Mahleriana. Eu não tenho o disco...
26/3 às 18:58 · GostoNão gosto · 2
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Paulo Bastos Obrigado pelas suas palavras APV!
26/3 às 19:00 · GostoNão gosto · 1
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António Pinho Vargas A minha (ou nossa luta) não tem nenhuma hipótese. Estudei o assunto da ausência, desmontei-lhe os mecanismos de poder e os discursos, mas um livro é um livro, é um livro, é um livro, como diria Godard. Não muda o mundo nem pouco mais ou menos. Trouxe alguma consciencia do facto a algumas pessoas - várias - "estávamos todos enganados" disse Sérgio Azevedo, "o seu livro transformou a ausência num monumento" disse-me Nuno Corte-Real. É importante mas não irá mudar dispositivos de poder seculares ou fortemente enraizados. Monumento será esta peça, talvez. Mas foi tocada em 2005, 2006 na Casa da Música, e pela Utópica em 2011. 3 vezes em 7 anos e meio. Uma peça que um director do Serviço de Música da Gulbenkian me disse ser "uma grande peça de música, repare que não digo de música contemporânea, digo de música". Mas lá não foi... A minha tese talvez explique porquê. É isso. Serve para explicar algumas coisas mas não é suficiente para as mudar.
26/3 às 19:10 · Não gostoGosto · 7
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Paulo Bastos No que à música diz respeito sou, francamente, um pessimista. Nada vejo de positivo no atual estado das coisas desde a cultura à educação. Penso mesmo que a parolice reinante é aquilo que, infelizmente, somos. Muitas vezes, sinto-me completamente só, e chego a pensar que eu é que estou errado... os tais intermediários são os que manipulam, os que fazem prescrever o objeto estético de qualidade, os que tudo fazem para a manutenção do gosto brejeiro. Há já alguns anos que sinto isto e penso que, hoje, nada há já para fazer. Ainda assim, penso que hei-de sempre escrever música, é mesmo uma necessidade estrutural, sem a qual nada fazia sentido.
26/3 às 19:24 · GostoNão gosto · 5
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CarlotaFranco Cppinto Muito densa e bonita! Gostei muito! Obrg, por nos dar a ouvir tão boa música. Linda a sonoridade do violoncelo. E o(s) texto(s) que aparecem de Manuel Gusmão, foram inspiração para... ou surgiram depois da composção? Desculpe a minha ignorância. Um abraço.
26/3 às 19:33 · GostoNão gosto · 3
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António Pinho Vargas Cara CarlotaFranco Cppinto, cada andamento, cada um dos 6 retratos, desta peça tem um poema ou um texto de Deleuze/Espinoza, Paul Celan, Manuel Gusmão (2), Thomas Bernhard, Anna Akhmatova. Enquanto compunha a ideia de retratos de dor ou da dor - daí ser em inglês o que me dispensou desta diferença - relativos a vários tipos de sofrimento humano, foram aparecendo à medida que ia compondo: por exemplo, o texto de Deleuze no início da peça é: "Espinosa conservava o casaco rasgado pela faca assassina para se lembrar que o pensamento nem sempre é amado pelos homens". Na peça apenas o de Anna Akhmatova é ouvido - lancinante - gravado e lido por mim - mesmo antes de começar a segunda parte da peça que está neste video. Os outros, estão escritos na partitura, os músicos são convidados a lê-los, mas não são ouvidos. Que afectaram o compositor fortemente enquanto trabalhava nem se pergunta: marcaram o carácter da peça de forma indelével.
26/3 às 21:00 · GostoNão gosto · 6
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António Pinho Vargas Sabem uma coisa: num romance de Vergílio Ferreira, há um personagem amigo do principal que é pintor e a certa altura lhe diz: "às vezes, no meu delírio, até penso que o que faço é bom". Pois bem. Neste caso, no meu delírio (seguramente), até penso que esta peça é das melhores que já ouvi nos últimos 50 anos, ou talvez mesmo, 100. Já não ouvia esta gravação há uns largos meses ou anos. Hoje, como fiz este video, já vou na quarta ou quinta vez!. Ah, grande convencido que és - no teu delírio - mas que posso fazer? Encanta-me, comove-me, sei lá... Sou um ser humano e tenho defeitos como este. Como disse no início o meu amigo Paulo Bastos, é fantástica esta obra (julgo, no meu delírio).
26/3 às 23:32 · Não gostoGosto · 4

Pierre-Laurent Aimard na Casa da Música



Já foi há algum tempo, mas quem não ouviu...
Ontem assisti a um fenomenal concerto de um grande pianista francês. Tocou um dos melhores programas que eu já pude ver e ouvir. E não se trata de gostar ou não das obras ou compositores aí interpretados. É, aliás, bem mais do que isso! Trata-se de um fio condutor que só um pianista do mais alto nível poderia propor a um público. Para iniciar, algumas das peças dos “Játékok” (jogos) de Kurtág, que, de um só gesto, deslizam (numa espécie de “glissement” françes) para Schumman, op 99, e voltam a deslizar para “Splinters”, op 6d, também do mestre húngaro. No momento seguinte, o último Liszt, que vai preparar definitivamente, nomeadamente com “Les jeux d’eau” a la Villa d’Este, a segunda parte, o segundo caderno de prelúdios de Debussy. O fio condutor referido é a total unidade de uma linguagem musical aparentemente diversa, mas que está unida pelas escolhas de um pianista muito inteligente, que reuniu a intensidade de uma série de miniaturas musicais, em vez de pesadas e longas obras, que decidiu, sem hesitar, tocar duas partes seguidas, sem aplausos e a seu pedido expresso, que me deu a maravilhosa sensação de fazer ouvir uma nota em vez de muitas.
De assinalar dois aspetos negativos do concerto, por uma lado um piano que rangeu o concerto todo com uma altura, vulgo nota, que aparecia sempre que o pianista retirava o pedal. Enfim, não sei o que lá foi fazer o afinador no intervalo uma vez que na segunda parte o problema da maldita frequência mantinha-se! O outro lado negativo, é, irremediavelmente mais difícil de resolver... O comportamento de um público que não sabia ao que ia, o chamado público de “convites”, frio nos aplausos, as tosses do costume, acho que nem são da época, uma vez que se repetem em qualquer estação do ano, e, o mais lamentável, nos últimos momentos do segundo caderno, em “Feux d’artifice”, um destemido e irritante telemóvel a tocar desenfreadamente. Quanto ao resto, e ainda em relação ao público, foi o costume, a “fina nata portuense”, que não conheço apesar lá ter vivido até há muito pouco tempo e durante mais de trinta anos, a dormir profundamente (literalmente ao meu lado) e até a ressonar (um pouco atrás de mim) e a passagem habitual de, posso jurar, alguma centena, ou mais, de casacos de pele com senhoras lá dentro. Nesta dita “fina nata” não se incluem, obviamente, as pessoas que, como eu, compraram o bilhete para ir ao concerto e lá estiveram com muito gosto.

Braga, 5 de fevereiro de 2012.

domingo, 17 de junho de 2012

sobre a ausência de gosto musical

Para além da questão do ensino especializado da música, que é o que tema que sempre mais me preocupou, ainda há a música contemporânea portuguesa em si mesma. A maior parte das obras que escrevo (desde 1990 sensivelmente) nunca foram tocadas, e aquelas que o foram não passaram da primeira e única vez. A comparação que posso estabelecer e forma mais simples de perceber é a de um escritor que escreve um livro para crianças, por exemplo, e apenas uma criança no mundo o ler! Não há qualquer forma, que eu esteja a ver de este tipo de coisas mudar por diversos motivos.
(comentário meu algures no facebook)

Quem ler o que acabei de escrever pode tirar vários tipos de conclusões...

pode eventualmente pensar que estou a aludir aos velhos problemas dos grupos daqui e dali, dos que são mais privilegiados no que à divulgação da sua música concerne, ou das questões das periferias - onde agora me incluo cada vez mais uma vez que me mudei do Porto para Braga, uma cidade sem qualquer tipo de estimulo cultural sério que eu vislumbre - e dos centros de poder, ou, pura e simplesmente, pode o leitor pensar, que afinal o tipo (eu) não tem é nada decente para mostrar e está para ali a lamentar-se. Mas desenganem-se os que põem acreditam em qualquer uma das hipóteses simplistas anunciadas acima! Sempre me passou literalmente ao lado todos este tipo de quesitos. No que diz respeito à composição portuguesa penso que tivemos um longo e sinuoso período, durante o século XX, verdadeiramente negro no que à qualidade diz respeito, com uma série de clichés atrasados do que melhor se fazia pelo resto do mundo em termos musicais. A época a que me refiro, com algumas excepções, é o chamado “antigo regime” que fez também os seus estragos no que à música portuguesa dizia respeito. Agora temos este modelo de “Actual Regime” disfarçado de coisa boa e democrática que também é, e muito, repressivo. A ressaca do antigo regime é o “Actual Regime” que hoje se vive. Voltando à questão central deste pequeno prelúdio, que é a composição portuguesa, sempre achei que a diferença de divulgação e amostragem da música dos compositores vindos de Lisboa e os do Porto se justificava. Pessoalmente, nem sequer estranho o facto de a massa composicional de Lisboa estar muito mais representada em Portugal (nomeadamente no norte) e no resto do mundo. Afinal há uma diferença de qualidade e quantidade abissal entre aquilo que foi produzido de um lado e do outro lado do país ao longo dos últimos 20 anos. É evidente que, para além de nós mesmos, tudo tem uma causa e responsáveis. Os poucos compositores portuenses que saíram do curso de composição da escola superior de música nos anos noventa não foram formados, foram, de forma lapidar, claramente deformados! Nas duas décadas seguintes, alguns apenas, iniciaram um processo lento de reconstrução e desconstrução de uma série de tiques e fobias confusas transmitidas pela intitulada geração de 60 reiniciando tardiamente a recuperação do seu espaço enquanto compositores. Alguns endireitaram-se e sempre escreveram música, outros não, e ele houve outros ainda que não tinham mesmo porque se endireitar.
Conheço, e sou leitor atento do que melhor se escreve sobre a produção cultural e, em especial da produção musical, no nosso país. Confesso-me como alguém que partilha uma grande parte das lúcidas e claras ideias difundidas por António Pinho Vargas na sua tese de doutoramento – “Música e Poder: Para uma sociologia da ausência da música portuguesa no contexto europeu”. No entanto, como em tudo, nem sempre nos revemos na totalidade dos argumentos de quem mais nos convence e há algo que percebi como não referido no que a “ausência da música portuguesa na europa” diz respeito. Num pais, pequeno como é o nosso, assistiu-se, até sensivelmente ao final de século XX, a uma clara assimetria entre a formação de compositores oriundos de Lisboa, que foram sempre muitos, e os do Porto. Será que esta realidade concreta não terá tido os seus efeitos nefastos para além das vitimas mais próximas, ou seja, os projectos de compositores do norte? Será que esta questão não é ela mesma uma das causas do enfraquecimento da própria realidade composicional para além das fronteiras territoriais? Porque a evidente ausência da música portuguesa na europa e consequentemente em Portugal? Para além das muitas razões da fraca visibilidade da música portuguesa na europa apresentadas por António Pinho Vargas, com que concordo na totalidade, na sua tese de doutoramento e livro, poderia, com certeza, constar também esta assimetria que refiro aqui, a de um país provinciano que nunca sairá dos ambientes que Eça de Queirós tão bem caracterizou.
Note-se que eu nem sequer acho que a música portuguesa moderna e contemporânea tenha que ter visibilidade só porque sim! Defendo mesmo que um bom programa de concerto não tem que ter música portuguesa, mas porque é que a há-de ter? Onde está isso escrito? É, aliás, de um provincianismo absoluto alguém pensar que deveria ser assim, só porque nos orgulhámos de ser portugueses, em nome de um qualquer tipo de nacionalismo bacoco, nada presente em praticamente tudo o que fazemos. Muito sinceramente, tanto me faz ser português como ser outra coisa qualquer! É-me indiferente... o que penso, isso sim, é que um bom programa de concerto deve primar pela forma de organização e interação entre as várias obras nele presentes e, acima de tudo, pela qualidade e coerência do objecto estético aí revelado em música. O que não se pode é colocar intermediários castradores e desabilitados (não me refiro a habilitação académica, mas sim, aos que vivem felizes sem o mínimo de saberes culturais) a organizar programas culturais de instituições, programas mal conduzidos, ou, até, in extremis, a gerir a própria cultura. Parece-me que, com os erros da história da música pouco ou nada se aprendeu por cá, basta lembrar as escandalosas estreias de obras Edgard Varèse em Paris, pois nada poderia funcionar, como é óbvio não ouviria com normalidade uma estreia de uma obra de Varèse entre Mozart e Mendelssohn. Mas todas estas questões têm os seus quês… para vermos pontes entre compositores diametralmente opostos é sempre necessário termos uma visão de conjunto que justifique as nossas escolhas. A título exemplificativo, e na primeira ideia que me ocorre, porque é que um concerto que cruze um certo tipo de obras de Bach, Kurtág, Janacek, Webern e Scriabin vai funcionar? A resposta a esta pergunta está com certeza na evidência de pensamento de quem as propõem enquanto programa de um eventual concerto. Para tal é necessário alguns saberes culturais, não muitos, mas alguns... ele há coisas que nunca se escondem, e a maior é, sem dúvida, a ignorância. A minha questão fundamental em relação à música, quer seja ela a portuguesa ou outra, é sempre a mesma e contradiz o espírito das regras “sociais” e democráticas, é aquela que banaliza a célebre frase de que “o gosto não se discute”! Discute, pois. E, concretamente, o gosto musical discute-se e educa-se. Só é pena é que já ninguém esteja para isso, nem para educar nem para ser educado.

sábado, 16 de junho de 2012

Tónica Dominante (3)

Tudo começou em 2005. Hoje, 4 anos depois, vou reabrir o meu blogue!
Com plena consciência de que o momento pode não ser o melhor, de que as ditas liberdades de expressão estão cada vez mais ameaçadas, ainda assim, ele volta, mais serenamente, mas igualmente parte de mim.
Espero que nesta terceira vez não me cause mais problemas...