não que eu ache que a obra não o justifica ou que a AvA não presta o serviço público que o estado não faz...
Uma nova obra, ou antiga, tanto faz, de um compositor tem, na melhor das hipóteses, uma estreia e depois arruma-se definitivamente na "prateleira" pessoal do compositor. Esta ideia é aliás, analisada com uma lucidez acutilante no livro "Música e Poder - Para uma Sociologia da Ausência da Música Portuguesa no Contexto Europeu" do meu amigo António Pinho Vargas. Portanto, o que quero transmitir com este pequeno texto é que uma obra musical não existe, apenas e só, porque teve uma estreia. Dessa forma a obra musical nem sequer existe para além do mundo interior do seu criador. Imaginem o que seria se as obras musicais da tradição musical ocidental, vulgo música clássica europeia, tivessem tido apenas uma estreia no seu tempo! Se assim tivesse sido hoje ninguém conheceria, por exemplo, as "Cenas Infantis" de Schumann, qualquer quarteto de cordas de Haydn, ou "Boris Godunov". As obras musicais dos compositores deviam ser tocadas uma ou outra vez para além da, hipotética, estreia. Por isso mesmo também acabam por estar à venda. E um original é um original e não uma fotocópia...
(para além da música também a capa é minha, concepção gráfica, tipo de letra, e, claro, foto, tirada no final dos anos oitenta com uma antiga reflex no Porto, bairro da Fontinha. As traves e a sua aridez urbana representam simbolicamente uma ponte com o travejamento de um piano de cauda aberto).
— com Francisco José Costa e Alfredo Figueiredo Costa em Fontinha, Porto.
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