Ontem,
no Theatro Circo em Braga revivi com emoção a música e a pessoa de António
Pinho Vargas. Já não o ouvia a tocar desde o final dos anos oitenta, numa
altura em que o seu piano era apoiado pelo irmãos Barreiros e pelo José
Nogueira em quarteto, isto no Teatro Carlos Alberto no Porto. Foi arrepiante
ouvir outra vez, a dança dos pássaros, Tom Waits, etc. Está tudo lá ainda, mas
mais refinado, as articulações a expressividade, os súbitos e curtos silêncios
em jeito de hoquetus, e, acima de tudo, aquelas melodias, de uma beleza
inexplicável, infinitamente lusitanas no seu contorno e perfil linear. Enfim,
para além de toda aquele grande jazz português que reouvi, as palavras de APV –
que separaram, em jeito de prelúdios, os momentos exclusivamente musicais – sempre
sábias, lúcidas e, mais do que tudo, generosas. Se alguma palavra pudesse
definir o dia de ontem, antes do concerto – em que tive o prazer da companhia
de APV num longo café adiado há muito tempo, anos mesmo – durante o concerto, e
depois do concerto essa palavra será GENEROSIDADE. Possivelmente, para alguns
parecerá um lugar comum, mas não o é, uma vez que é cada vez mais difícil
encontrar esta palavra expressa e encarnada na alma das pessoas. Numa altura em
que tanto se “partilha” e tão pouco se dá as “gentes” são cada vez menos
generosas, e uma grande parte não o é sequer.
Obrigado,
António.
(foto da culturgest)
(foto da culturgest)
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