Post de António Pinho Vargas que deu origem aos comentários:
o desejo secreto do compositor é poder chegar ao ponto de imaginar que com a sua obra, ou algumas delas, terá mudado a vida de, pelo menos, algumas pessoas. Neste caso posso afirmar que a peça Six Portraits of Pain mudou a minha. A partir d...esse momento milagroso e inexplicável não foram poucas as vezes em que recorri à lembrança da sua estreia para tentar afastar as angústias e as dúvidas da criação: "lembra-te que foste capaz de compor aquela peça". Comparado com isto, com a possibilidade de ter sentido algumas vezes esta exaltação solitária, o facto de o disco ser quase impossível de encontrar, de a música portuguesa em geral ser menosprezada ou desconhecida, mesmo em Portugal, acaba por ter uma menor importância, nem que seja por breves momentos.
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Comentários:
Paulo Bastos Fantástica obra... o que eu gostava de assim escrever! A melodia é sempre o ponto mais evidente numa depuração controlada e sofrida. Adorei, parabéns!
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26/3 às 18:54 · GostoNão gosto · 2
Gonçalo Gato Eu tenho o disco! Estou consigo na sua luta. 1 abç
26/3 às 18:57 · GostoNão gosto · 1
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António Pinho Vargas Caro Paulo Bastos, muito obrigado. E mantemos um contacto por interpostas pessoas - alunos seus que vêm de Braga estudar comigo e com outros colegas em Lisboa, sempre muito bons, há vários anos. Não é por acaso. Parabéns e obrigado. Tem razao. É a melodia que conduz tudo.
26/3 às 18:58 · Não gostoGosto · 1
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Paulo Bastos Um sustentação melódica quase Mahleriana. Eu não tenho o disco...
26/3 às 18:58 · GostoNão gosto · 2
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Paulo Bastos Obrigado pelas suas palavras APV!
26/3 às 19:00 · GostoNão gosto · 1
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António Pinho Vargas A minha (ou nossa luta) não tem nenhuma hipótese. Estudei o assunto da ausência, desmontei-lhe os mecanismos de poder e os discursos, mas um livro é um livro, é um livro, é um livro, como diria Godard. Não muda o mundo nem pouco mais ou menos. Trouxe alguma consciencia do facto a algumas pessoas - várias - "estávamos todos enganados" disse Sérgio Azevedo, "o seu livro transformou a ausência num monumento" disse-me Nuno Corte-Real. É importante mas não irá mudar dispositivos de poder seculares ou fortemente enraizados. Monumento será esta peça, talvez. Mas foi tocada em 2005, 2006 na Casa da Música, e pela Utópica em 2011. 3 vezes em 7 anos e meio. Uma peça que um director do Serviço de Música da Gulbenkian me disse ser "uma grande peça de música, repare que não digo de música contemporânea, digo de música". Mas lá não foi... A minha tese talvez explique porquê. É isso. Serve para explicar algumas coisas mas não é suficiente para as mudar.
26/3 às 19:10 · Não gostoGosto · 7
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Paulo Bastos No que à música diz respeito sou, francamente, um pessimista. Nada vejo de positivo no atual estado das coisas desde a cultura à educação. Penso mesmo que a parolice reinante é aquilo que, infelizmente, somos. Muitas vezes, sinto-me completamente só, e chego a pensar que eu é que estou errado... os tais intermediários são os que manipulam, os que fazem prescrever o objeto estético de qualidade, os que tudo fazem para a manutenção do gosto brejeiro. Há já alguns anos que sinto isto e penso que, hoje, nada há já para fazer. Ainda assim, penso que hei-de sempre escrever música, é mesmo uma necessidade estrutural, sem a qual nada fazia sentido.
26/3 às 19:24 · GostoNão gosto · 5
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CarlotaFranco Cppinto Muito densa e bonita! Gostei muito! Obrg, por nos dar a ouvir tão boa música. Linda a sonoridade do violoncelo. E o(s) texto(s) que aparecem de Manuel Gusmão, foram inspiração para... ou surgiram depois da composção? Desculpe a minha ignorância. Um abraço.
26/3 às 19:33 · GostoNão gosto · 3
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António Pinho Vargas Cara CarlotaFranco Cppinto, cada andamento, cada um dos 6 retratos, desta peça tem um poema ou um texto de Deleuze/Espinoza, Paul Celan, Manuel Gusmão (2), Thomas Bernhard, Anna Akhmatova. Enquanto compunha a ideia de retratos de dor ou da dor - daí ser em inglês o que me dispensou desta diferença - relativos a vários tipos de sofrimento humano, foram aparecendo à medida que ia compondo: por exemplo, o texto de Deleuze no início da peça é: "Espinosa conservava o casaco rasgado pela faca assassina para se lembrar que o pensamento nem sempre é amado pelos homens". Na peça apenas o de Anna Akhmatova é ouvido - lancinante - gravado e lido por mim - mesmo antes de começar a segunda parte da peça que está neste video. Os outros, estão escritos na partitura, os músicos são convidados a lê-los, mas não são ouvidos. Que afectaram o compositor fortemente enquanto trabalhava nem se pergunta: marcaram o carácter da peça de forma indelével.
26/3 às 21:00 · GostoNão gosto · 6
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António Pinho Vargas Sabem uma coisa: num romance de Vergílio Ferreira, há um personagem amigo do principal que é pintor e a certa altura lhe diz: "às vezes, no meu delírio, até penso que o que faço é bom". Pois bem. Neste caso, no meu delírio (seguramente), até penso que esta peça é das melhores que já ouvi nos últimos 50 anos, ou talvez mesmo, 100. Já não ouvia esta gravação há uns largos meses ou anos. Hoje, como fiz este video, já vou na quarta ou quinta vez!. Ah, grande convencido que és - no teu delírio - mas que posso fazer? Encanta-me, comove-me, sei lá... Sou um ser humano e tenho defeitos como este. Como disse no início o meu amigo Paulo Bastos, é fantástica esta obra (julgo, no meu delírio).
26/3 às 23:32 · Não gostoGosto · 4
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