quinta-feira, 29 de março de 2007

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.


Fernando Pessoa

3 comentários:

  1. A propósito da contenda que se vem desenrolando no post anterior, lembrei-me deste desabafo do poeta acerca da insuficiência da razão e da linguagem para "descrever" o coração.

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  2. Não subscrevo.
    Então vocês apelidam assim a nossa boa vontade em trocar impressões e ideias... e vão buscar esse maluco, esquizofrénico, torturador de crianças para ilustrar as nossas atitudes?

    Sendes uns desfragmentados, é o que sendes. Buuufff...

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