Na continuidade dos comments ao post “Apolo e Dionísio (pois...)” (...) no entanto é curioso que Hesse, nos muitos escritos em que aborda a temática musical, refira com grande frequência Mozart quando quer apresentar, de forma simples e directa, o conceito de belo musical. Mas, por outro lado, o que é um facto para mim é que quando ouço e analiso Mozart, por exemplo, nem que seja “apenas” um andamento de uma sonata para piano, vejo lá muito mais do que técnica, clareza, construção e razão! Nem que seja, repito, a obra mais inocente e menos ambiciosa, está lá sempre o compositor de génio dionisíaco, que soube aliar tudo que era preciso para fazer a “melhor música de sempre”: razão, saber técnico, vivência humana e emoção, afinal, aquilo a que comummente chamamos de “inspiração”.
9 Comments:
At Quarta-feira, 01 Junho, 2005, sasfa said...
Li há pouco na revista “Farmácia saúde” que a psicóloga portuguesa Cláudia Borralho investigou a relação entre os gostos musicais dos adolescentes e a ideação suicida!!
“ De acordo com este estudo (...) existe de facto uma ligação entre os tipos de música, e alguns músicos, e ideias suicidas. Assim, por estranho que pareça, não são as batidas de estilos musicais mais agressivos e violentos (...) que despertam tendências suicidas, mas sim os acordes saídos do génio de Beethoven. Foi, de facto, este compositor que a investigadora comprovou estar mais fortemente associado às ideias visando pôr fim à vida.” [Farmácia saúde no 104, Maio 2005]
EH, eh, Beethoven, um clássico, a par de Marylin Manson, Korn ou Limp Bizkit!!!!
É claro que o estudo vale o que vale, mas não deixa de ser curioso...
Resta saber quais seriam os acordes, se dos primeiros, se dos últimos...
At Quarta-feira, 01 Junho, 2005, César Viana said...
Quais dos acordes? Os maiores, os menores, de sétima...? Os das danças escocesas ou dos quartetos? E que adolescentes?
Teria curiosidade em saber sobre quantos indivíduos incidiu o estudo e quais os “estilos” de música considerados. Será que houve também forró e marchas militares? E fado?
Mas é muito engraçada a situação. Obrigado pela divulgação. Bom, voltando a coisas sérias, como é o caso do post que comentamos, não me parece que seja o carácter mais apolínio ou dionisíaco que distingue, por si só, os clássicos dos “românticos”, como lhes chama Hesse. Em ambos os casos há compositores com ambas as tendências em maior ou menor grau (o que não quer dizer que este não seja - também - um factor a ter em conta.
At Segunda-feira, 06 Junho, 2005, paulo mesquita said...
Realmente o estudo plasmado nessa dita revista só me dá vontade de rir, muito menos de ir à farmácia mais próxima buscar uns ben-u-rons, quando muito um ri(H)nomer( o H é mudo por causa da SPA), que está em falta, cá em casa. Eu acho que há aqui um notório problema de semântica, só para não ir mais longe.
Conquanto eu viva proximamente com a investigação em psicologia - uma área pela qual eu tenho um enorme respeito e admiração, e que aproveito para dizer que está constantemente a ser usurpada por profissões laterais, pois parece que neste país toda a gente diz/quer ser psicólogo, de unma forma ou de outra, mas ao que parece eles (os e as psis) não são precisos - este estudo parece fundado em chão lamacento ou de muito pouca sustentabilidade, pelo menos. Se foi uma tentativa de despertar a comunidade científicomusical ( ou musicalocientífica), no que a mim me toca, estou ainda com mais sono. Se isto foi uma tentativa de, num discurso light,prosaico e consonante, introduzir uma dissonância que nos desperte na cadeira ou um moscardo para nos espicaçar, desengane-se, prefiro adormecer com as Goldberg (grande onda. Tal como foi referido, seria interessante aferir da amostra. Será que esse tal público alvo é dos USA??, perguntar-me-ão.
Se calhar não andamos muito longe.
Será que este estudo foi levado a cabo no âmbito estrito da Psicologia séria, em si, ou na alçada da Psicologia da música, que, não raro, nem é uma coisa nem é outra.
Alguém deve ter comentado aquela máxima do Romantismo: “a tempestade e ímpeto” a tal “sturm und drang”, e vai daí, como se falou em tempestade e ímpeto, toca a inferir suicidas.
Eu acho que o nome de Beethoven surgiu para, de certa forma, tentar colocar algo que, à partida, pudesse credibilizar ou fazer apelo a algo sério. Devia ler-se, em vez de Beethoven, Ian Curtis( joy Division) ou Jim Morrison(Doors)e a tal premisa da barreira dos 27 anos( não tenho bem a certeza).
Quanto aos acordes, hoje há quem hes chame adição de notas ou agregados. Pois numa coisa esse estudo parece ter razão, o suicídio pode ter sido, e foi de facto, potenciado pela adição / agregados / acordes de substâncias mais ou menos psicotrópicotoxicizantes.
Quanto à questão Apolíneo e dionisíaco,em apreço, acho que os outros intervenientes já abordaram amplamente o essencial e eu detesto ser prolixo.
At Segunda-feira, 06 Junho, 2005, pb said...
Acho que foi assim (mas posso estar enganado):
os três Jotas!
Morreram Jim Morrison, Janis Joplin e Jimi Hendrix, todos aos 27 anos, por razões semelhantes (droga e álcool), e todos do signo sagitário (para quem siga os astros)...
Estranho...
At Segunda-feira, 06 Junho, 2005, sasfa said...
Não percebo porque se abespinham todos por causa do estudo de psicologia... sabemos lá se o estudo está bem ou mal feito, se a amostra é ou não relevante, se a psicóloga sabe ou não o que está a fazer...
Mas porquê presumir logo que não?
At Segunda-feira, 06 Junho, 2005, Paulo Mesquita said...
Eu sou Sagitário, tal como o Beethoven.
Já fiz os 3 x 9 há uns tempos.
Que Eu saiba, ainda estou vivo.
Será que é porque vivo com uma psicóloga.
At Segunda-feira, 06 Junho, 2005, Paulo mesquita said...
Já agora, o Ian também poderá ser considerado Jan?
Assim já são 4 jotas.
Sasfa-te
At Quarta-feira, 08 Junho, 2005, César Viana said...
Confesso que não me abespinhei; pelo contrário! Foi um momento engraçadíssimo. Mas repare, quando o ponto é o descrito, se a investigação for muito fundamentada, só pode trazer disparates muito bem fundamentados. De qualquer modo (confesso, não li tudo, mas a avaliar pelka amostra...)
At Sexta-feira, 17 Junho, 2005, sasfa said...
Continua a saga das revistas...
Li hoje na revista Grande Reportagem um artigo interessante acerca da música ambiente e dos danos que esta normalmente causa. Com algumas excepções: verificou-se que em algumas estações de metro os actos criminosos diminuiram significativamente a partir da altura em que se introduziu música ambiente de Mozart!!! Aparentemente não será confortável assaltar alguém ao som desta música...
P. S. Não posso citar nem precisar a data da revista porque tive vergonha de a roubar do consultório médico.