segunda-feira, 30 de maio de 2005

Apolo e Dionísio (pois...)

Há dois tipos de música. Uma delas é clássica, a outra romântica. Uma é arquitectónica, a outra pictórica. Uma socorre-se do contraponto, a outra dá a primazia ao colorido. Dos que pouco percebem de música, a maioria apreciará mais facilmente a música romântica. A música clássica não tem para oferecer as orgias e a embriaguez da romântica, mas por outro lado também nunca acaba por criar a repugnância, o peso na consciência e a ressaca que a última pode provocar.

Hermann Hesse, Música - (De “Notizen”, 1912)
5 Comments:
At Segunda-feira, 30 Maio, 2005, Rostos said...
A pintura dança com pés de algodão, quando rodopia nos braços da música. E nada é por acaso. Na altura, Hermann Hesse escreveu este texto, e apaixonou-se pelas belas paisagens de Ticino, dedicando-se à pintura. Realmente, adoro ver as artes a dançarem entre si, como se estivessem dentro de um quadro de Matisse. Sim. É esse o som que procuro, quando crio... que dancem os teus sonhos...

Um abraço amigo do Pedro.

At Terça-feira, 31 Maio, 2005, César Viana said...
Chamamos “clássica” à música de Haydn, Mozart e Beethoven (alguns juntam, para trás, Bach, ou, para a frente, Schubert.
Chamamos “clássicos”, na literatura, a Homero, aos três tragediógrafos, a Píndaro e pouco mais. Porque será? Que faz de Ésquilo, Sófocles e Eurípides clássicos na mesma medida em que Bach, Mozart e Beethoven o são? É claro que quando pergunto “porque será?” não me refiro aos contextos históricos ou estéticos que levaram a estas designações. O ponto é que elas são mais do que meras designações convencionais. Trata-se efectivamente dos “clássicos” por excelência, por ventura os únicos. Em ambos os casos temos 3 criadores que viveram num espaço de menos de 100 anos (!), em períodos em que existia um claro paradigma estético, sendo assim o papel do criador muito o de levar até à exaustão o aperfeiçoamento “daquele” tipo de forma ou género. Isso originou criações que, no fundo, não são alegres nem tristes, positivas ou negativas. Transmitem um tipo de emoção muito próprio ao próprio género que lhes serve de suporte. Surgem-nos muitas vezes como uma espécie de manifestação “crística” de alguma superior ordem ou harmonia estética universal revelada aos restantes mortais para que pudessem ter um caminho a seguir...

At Terça-feira, 31 Maio, 2005, pb said...
Caro César Viana,
Esse “paradigma estético” referido é sustentado e direccionado para aquilo a que chamamos de espírito clássico (da perfeição, da forma, da proporção aritmética, do ideal de beleza, etc.) esteja ele no tempo da Grécia antiga ou na Alemanha/Áustria dos séculos XVII a XIX. Acho que esta singela frase de Hermann Hesse visava apenas uma apreciação empírica da música, suportada nos conceitos da ordem (apolíneo) e do prazer (dionisíaco), deixando para trás outras questões...
Um abraço, Paulo.
(continuo este comment no post seguinte, fica lá mais enquadrado, acho eu...)

At Quarta-feira, 01 Junho, 2005, César Viana said...
Claro. O meu comentário não era uma interpretação do texto do Hesse mas sim uma reflexão (devaneio?...)a propósito.


At Quarta-feira, 01 Junho, 2005, pb said...
Eu sei, eu percebi. A minha intenção foi só prolongar estas ideias nomeadamente para o próximo post.

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